Machado de Assis, o escritor carioca nascido em 21 de junho de 1839, um dos mais respeitados autores do país e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, se tornou “trend” mundial na internet em pleno 2024. O fato ocorreu após um vídeo da escritora e podcaster norte-americana Courtney Henning Novak viralizar nas redes sociais. Nele, Courtney relata que o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” se tornou o melhor que já leu na vida e imediatamente se tornou o seu preferido.
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A repercussão do vídeo (publicado no dia 18 de maio) foi tanta que a tradução em inglês do clássico de Machado de Assis disparou em busca nos Estados Unidos, de acordo com o Google Trends (ferramenta online da empresa que mede os temas de pesquisas feitas na internet). Com isso, a também obra se tornou uma das mais vendidas em livrarias digitais na categoria “Literatura Caribenha e Latino-Americana”.
Mas o que fez a escritora e podcaster norte-americana se interessar tanto por este livro lançado no século 19 e pela escrita de Machado de Assis? Conheça 5 curiosidades sobre o autor e sobre “Memória Póstumas de Brás Cubas” – uma obra clássica e atemporal ao mesmo tempo.
1. Machado de Assis já era conhecido quando lançou sua obra narrada por um morto
Machado de Assis era um escritor com várias obras publicadas entre romances (como “Helena” e “A Mão e a Luva”, por exemplo) e contos quando, em 1881, lançou o livro que seria um divisor de águas em sua carreira e na literatura brasileira em geral: “Memórias póstumas de Brás Cubas”.
Ao mesmo tempo em que marca a fase mais madura do autor, o livro é considerado a transição do período literário do romantismo para o realismo no Brasil, como explica o site da editora Companhia das Letras.
Acima, uma foto do carioca Machado de Assis ainda com 25 anos. Além de escritor, Machado foi ainda jornalista, crítico literário e ocupou vários cargos públicos.
FOTO DE REPRODUÇÃO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
2. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” traz uma trama extremamente criativa
O livro surpreende logo em suas primeiras páginas pela criatividade narrativa. Afinal, o narrador é um defunto – ou melhor, alguém que acabou de morrer.
A história é contada a partir do ponto de vista de Brás Cubas, um homem falecido que era da elite do Rio de Janeiro e faz uma espécie de autobiografia refletindo com humor sarcástico as hipocrisias e caprichos da classe média alta brasileira do século 19.
Apesar da linguagem da época, a trama fala de temas atemporais e é moderna por não seguir uma linearidade cronológica na narrativa.
3. Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras
A fama de Machado de Assis e o respeito por sua obra no Brasil e no mundo não são de hoje, afinal são mais de 150 anos desde que o autor publicou seus primeiros textos – inicialmente em revistas e jornais. O escritor possui um estilo único e universal que as novas gerações merecem descobrir.
Sendo popular ainda em vida, Machado na época já era muito respeitado no meio acadêmico e literário, sendo próximo de autores como José de Alencar, Eça de Queirós, entre outros. Tanto que se tornou um dos membros-fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897, e foi o seu primeiro presidente – cargo em que ficou por dez anos, como conta o site criado em sua homenagem pelo Ministério da Educação brasileiro (MEC).
4. Machado de Assis tinha um apelido curioso: era chamado de bruxo
Outras gerações de escritores brasileiros, muitas décadas depois, seguiram reverenciando o talento único de Machado de Assis. Seu apelido mais famoso – “o bruxo do Cosme Velho” – realmente ficou conhecido após o escritor Carlos Drummond de Andrade escrever, em 1958, o poema “A um bruxo, com amor”, em homenagem ao autor.
Machado viveu anos em um casarão no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro, como revela o site da Universidade de São Paulo (USP).
Susan Sontag e Maya Angelou são algumas das admiradoras famosas de Machado de Assis
A escritora e ensaista norte-americana Susan Sontag foi outra admiradora famosa da obra de Machado de Assis. Em um de seus livros, “Questão de Ênfase”, ela reúne vários artigos dela, entre eles um de 1990 em que fala sobre a genialidade do autor brasileiro e como ele ainda não ser tão conhecido fora do Brasil.
Já a ativista e escritora norte-americana Maya Angelou, também em 1990, disse à revista literária Paris Review que ler o livro “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, a fez tornar escritora.
Em 2020 foi lançada pela editora Penguin Classics, a edição mais recente em inglês de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, traduzido pela norte-americana Flora Thomson-DeVeaux, que vive no Brasil. Na época, em uma entrevista para o site de notícias DW Brasil, de origem alemã, Flora revelou que levou cinco anos para traduzir o livro e que se impressiona como a obra de Machado permanece atual e incomparável.
“Uma das coisas geniais de Memórias Póstumas é que há uma modernidade surpreendente, mas dentro da linguagem do século 19”, afirmou a tradutora.
FONTE: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL