Nova edição de estudo da Fundação Dorina Nowill para Cegos apontou que 63% dos entrevistados afirmaram gostar de ler
No dia 13 de dezembro se celebra, anualmente, o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual – e, há poucas semanas, a Fundação Dorina Nowill para Cegos divulgou um estudo, viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura, para compreender os hábitos de leitura de pessoas com deficiência visual no Brasil – 63% dos entrevistados afirmaram gostar de ler, e a leitura é um hábito para 48% deles.
Denominado Programa Nacional de Apoio à Cultura 204759 “Ler para ser – Literatura como cidadania”, o estudo foi realizado por meio do Datafolha e entrevistou 400 pessoas, entre junho e julho deste ano, homens e mulheres, de diferentes faixas etárias, a partir de 12 anos e média de 48 anos, com baixa visão ou cegueira, abrangendo diferentes estados e regiões brasileiras.
O principal ponto destacado pela pesquisa foi o gosto pela leitura. Houve um aumento nesse aspecto em comparação com a pesquisa anterior, passando de 55% para 63%.
A pesquisa também revelou que a leitura é um hábito diário para 48% dos entrevistados, enquanto 32% afirmaram ler, pelo menos, uma vez por semana.
As preferências entre gêneros literários ficaram assim:
- Literário: 34%
- Acadêmicos: 21%
- Religiosos e espiritualistas: 20%
- Políticos e históricos: 9%
- Autoajuda: 7%
- Biográficos: 4%
A pesquisa também identificou alguns desafios enfrentados pelos entrevistados. Cerca de 40% apontaram os livros acadêmicos como os mais ausentes para pessoas com deficiência visual. Também figuram na lista os religiosos e espiritualistas com 20%, os literários, biográficos e políticos/históricos com 17% cada, além dos de autoajuda com 10%.
Acesso aos livros
Quanto à forma de acesso aos livros, 86% utilizaram formatos falados e audiolivros, 75% digitais, 53% acessíveis com descrição de imagens, 35% impresso somente em Braille, 34% Digital E-Pub, 22% Digital-DAISY, 22% com fonte ampliada e 18% impresso em tinta Braille.
A forma preferida de acesso aos livros continuou sendo o download da internet, com 64% das menções. Ao mesmo tempo, a preferência por receber os livros em casa permaneceu estável, com 21% das respostas. No entanto, a opção de leitura pessoalmente caiu, passando de 18% para 7% em 2023.
A facilidade para aquisição de livros acessíveis dividiu a opinião dos leitores. Cerca de 49% atribuíram notas de 7 a 10, enquanto que 51% de 0 a 6. Além disso, a dificuldade para aquisição de livros acessíveis foi ressaltada por 46% dos entrevistados, bem como a disponibilidade de profissionais capacitados nos locais de leitura para atender pessoas com deficiência visual, apontada por 66% dos respondentes.
Cerca de 81% ressaltou a grande dificuldade de acesso a locais ou instituições para leitura, levando em consideração transporte, ruas ou vias acessíveis e a proximidade da casa ou trabalho.
Quem foram os entrevistados
Cerca de 70% dos entrevistados possuem escolaridade superior, sendo que 25% deles possuem pós-graduação completa ou incompleta. Atualmente, 37% estão estudando, incluindo aqueles cursando o ensino superior, pós-graduação e cursos livres. No que diz respeito à atividade econômica, quatro em cada dez entrevistados são economicamente ativos, com maior presença de funcionários públicos e assalariados registrados. No entanto, essa presença é menor se comparada a 2019. Cerca de 70%, possui renda familiar de até cinco salários mínimos.
O estudo também investigou os hábitos de leitura durante a pandemia de Covid-19. Cerca de 45% dos entrevistados afirmaram ter lido mais livros do que antes e 33% leram a mesma quantidade, enquanto apenas 20% reduziram o ritmo de leitura. Ainda neste contexto, 46% continuaram a ler os mesmos temas, 43% incluíram novos temas além de manterem os que já liam e 9% passaram a ler livros de outros temas.
Dos locais para a busca de informações sobre livros para pessoas com deficiência, a Fundação Dorina foi a mais citada, com 46% das menções, contra 18% em 2019. As redes sociais vieram logo em seguida com 20% (11% em 2019) e sites de livros como portal dos cegos, bengala legal, 16% (23% em 2019).
Resultados e Ações
“Os dados apresentados reforçam a necessidade de todo nosso empenho e trabalho na busca por melhorias e investimentos contínuos para garantir um acesso inclusivo e eficaz à leitura para a comunidade com deficiência visual. Estamos falando, segundo dados do IBGE, de um público de cerca de 6,5 milhões de pessoas. Por isso, o compromisso da Fundação Dorina em promover acessibilidade por meio da inovação é evidente por meio das ferramentas inovadoras que vêm desenvolvendo e aprimorando”, afirma Alexandre Munck, Superintendente Executivo da Fundação Dorina Nowill para Cegos, em nota.
A Fundação lançou em outubro uma plataforma voltada para otimizar a transcrição e adaptação de livros para o formato Braille. O processo de transcrição possibilitado pela plataforma abrange desde a conversão de PDF, linearização e descrição de imagens até a formatação completa, que inclui capa, sumário, adaptação de tabelas, gráficos táteis e relevos e criação de arquivo de tinta para impressão. A plataforma está, ainda, em sua 1ª fase de implantação e o resultado esperado será o de um aumento significativo na velocidade do processo que saltará dos 387 títulos e 82 mil páginas por ano, produzidas pela Fundação Dorina, para 774 títulos e 225 mil páginas anuais.
Editoras
Diversas empresas produzem audiolivros e materiais audiovisuais com recursos de acessibilidade nos estúdios da Fundação, como a Audible (da Amazon), Editora Mostarda, Editora Girassol, Editora FTD, Editora SM e Bookwire, entre outras.
Para a diretora editorial da Editora Mostarda, Andressa Maltese, a ideia do trabalho é fazer uma construção de caminhos para a acessibilidade. A editora se propõe a editar seus livros em formatos únicos, já acessíveis, para diferentes tipos de leitores, “o que é difícil”. Além dos formatos digitais – que tiveram um boom após as exigências de acessibilidade nos editais do PNLD –, a editora tem 42 títulos em Braille. “Na Bienal do Livro Rio deste ano, houve muita procura desses títulos”, comenta.
Ela conta que o trabalho apresenta alguns desafios, entre eles os custos (tinta e depois a impressão em Braille) e a própria produção editorial para fazer a transcrição (“como revisamos esse material?”). O processo de comercialização também tem alguns impeditivos: o livro precisa custar o mesmo valor que um livro sem os elementos de acessibilidade, “isso dificulta muito para o comercial. E aí estamos tentando encontrar caminhos. Em parcerias com redes de livrarias, oferecemos um desconto menor e eles topam. Fazer pacote com livro tradicional, oferecendo contrapartidas para pacotes de vendas em escolas, tentamos viabilizar”, comenta.
Fonte: PublishNews/Guilherme Sobota