A escritora Marina Colasanti, uma das mais importantes vozes da literatura infantojuvenil e da cultura brasileira, faleceu nesta terça-feira (28), aos 87 anos, em sua casa no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pelas editoras FTD e Global, responsáveis pela publicação da maior parte de suas obras. A causa da morte não foi divulgada, mas a autora já vinha enfrentando problemas de saúde. O velório ocorreu na manhã de quarta-feira (29), no salão nobre da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, local onde a escritora morou e que sempre foi um espaço significativo em sua vida.

Marina Colasanti deixa um legado literário vasto e multifacetado, com mais de 70 livros publicados, entre obras para adultos e infantojuvenis. Nascida em Asmara, então capital da Eritreia, em 1937, ela viveu na Líbia e na Itália antes de se estabelecer no Brasil na década de 1940. Formada pela Escola Nacional de Belas Artes, Marina não apenas escreveu, mas também ilustrou muitas de suas obras, demonstrando um talento raro que unia texto e imagem de forma harmoniosa.

Sua carreira foi marcada por reconhecimentos nacionais e internacionais. Em 2023, ela recebeu o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras a autores que se destacam pelo conjunto da obra. Em 2024, foi homenageada como Personalidade Literária na 66ª edição do Prêmio Jabuti e chegou a ser finalista do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o mais importante da literatura infantil mundial. Ao longo de sua trajetória, Marina acumulou nove estatuetas do Jabuti, consolidando-se como uma das maiores referências da literatura brasileira.

Além de sua produção literária, Marina Colasanti teve uma atuação significativa no jornalismo, trabalhando no Jornal do Brasil e na Editora Abril, além de colaborar como colunista e cronista em diversos veículos. Ela também foi uma das integrantes do primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, e muitas de suas obras refletem sobre o lugar da mulher na sociedade, trazendo protagonistas femininas fortes e complexas.

Em entrevista ao programa Trilha de Letras, da TV Brasil, em 2019, Marina falou sobre sua paixão pelos livros, que nasceu na infância: “Os livros foram o meu colete salva-vidas. Lemos muito! Em situações, às vezes, adversas, complicadas… E os livros eram uma farra! Companheiros de brinquedo, eram nossa fonte mais rica de imaginário”. A autora, que se recusava a se definir por um único estilo literário, afirmava: “Eu sou prosa e verso na mesma medida. Isso atravessa o olhar. Você tem um olhar poético ou não tem um olhar poético. É a maneira de aproximar-se do mundo. E eu acho que eu tenho os dois.”

Marina era casada com o poeta Affonso Romano de Sant’Anna e deixa duas filhas. Sua morte é uma perda irreparável para a literatura e a cultura brasileira. O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Luchesi, destacou a amplitude de sua obra: “Foi mestra em todos os campos: no diálogo com a gravura, com a pintura, a poesia, o romance, a literatura infantil, as narrativas breves e as artes plásticas. O Brasil e a Itália perdem um de seus maiores nomes.”

A Câmara Brasileira do Livro emitiu uma nota de pesar, solidarizando-se com a família, amigos e leitores de Marina Colasanti, celebrando sua vida e obra como “um presente eterno para a cultura brasileira e mundial”. Sua última obra, Tudo Tem Princípio e Fim, foi publicada em 2017, mas seu legado permanecerá vivo, inspirando gerações futuras a descobrirem o poder transformador da literatura.