Seleção conta com obras de Elisama Santos, Djamila Ribeiro e Itamar Vieira Junior, entre outros autores brasileiros
O Dia da Consciência Negra é um convite à reflexão e celebração da riqueza cultural e da luta histórica da população negra por seus direitos. Marcado pelo aniversário de Zumbi dos Palmares, líder quilombola símbolo da resistência contra a escravidão, o dia 20 de novembro tornou-se um marco na luta contra o racismo e pela promoção da igualdade racial no Brasil.
Nessa data, assim como o ano todo, é importante não apenas lembrar os desafios enfrentados pela comunidade negra ao longo dos séculos, mas também reconhecer e valorizar suas contribuições em diversas áreas, incluindo a literatura.
Pensando nisso, selecionamos 7 livros imperdíveis de autores negros brasileiros para adicionar à sua lista de leitura. Entre eles o destaque vai para “Salvar o fogo”, de Itamar Vieira Junior, autor do Bestseller Torto Arado; “Via Ápia”, romance de Geovani Martins, que compartilha os impactos da instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na vida dos moradores da Rocinha; e o clássico “Quem tem medo do feminismo negro?”, de Djamila Ribeiro, uma das principais escritoras brasileiras da atualidade, com reflexões sobre intolerância às religiões de matriz africana, políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil.
Confira abaixo a seleção e boa leitura!
Mesmo rio, Elisama Santos
Em “Mesmo rio”, Elisama Santos parte da ideia de que, do mesmo modo que “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”, é impossível ser a mesma mãe para todos os filhos. E isso, invariavelmente, deixa profundas marcas em todos. É um convite a adentrar nas águas caudalosas e nos meandros nada óbvios desse curso intenso que é a dinâmica familiar. Com o suporte de uma narrativa literária envolvente, a autora nos enreda com personagens cativantes e reais em situações cotidianas, que gradualmente nos levam a sentimentos complexos.
Desamada: Um corpo à espera do amor, Midria
“Desamada: um corpo à espera do amor” é leitura indicada para qualquer pessoa que já viveu o contrário do amor, isto é, o desamor. A solidão física, corpórea, da falta do toque, da ausência de companhia, seja para dormir de conchinha ou para estar em situações que exigem acompanhantes. “Quem vai me acompanhar na endoscopia?”, interroga Midria em algum momento do livro.
Salvar o fogo, Itamar Vieira Junior
A história contada em “Salvar o fogo” tem várias camadas e muitos significados. Sua força reside na forma habilidosa que Itamar Vieira Junior mescla a trajetória íntima de seus personagens com traços da vida – social, emocional e cultural – brasileira. “Salvar o fogo” nos mostra que os fantasmas do passado de uma família muitas vezes não se distinguem dos fantasmas do país. Uma trama atravessada pelos traumas do colonialismo que permanecem vivos, como uma ferida ainda aberta.
O avesso da pele, Jeferson Tenório
O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.
Quem vai fazer essa comida? Mulheres, trabalho doméstico e alimentação saudável, Bela Gil
Hoje, depois de décadas de pesquisas científicas e questionamentos à indústria do fast-food, sabemos que os alimentos ultraprocessados são grandes promotores de doenças crônicas não transmissíveis. Também sabemos que a comida de panela feita em casa com ingredientes frescos ou minimamente processados é a melhor opção para nutrir o corpo, fortalecer as culturas regionais e respeitar o meio ambiente. Mas, como questiona Bela Gil em seu novo livro, quem vai fazer essa comida? A partir da pergunta, a chef, apresentadora e ativista relaciona alimentação saudável, feminismo e trabalho doméstico, complexificando um debate ignorado pelos livros de receitas e programas de culinária.
Via Ápia, Geovani Martins
Nesta engenhosa narrativa sobre os impactos da instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na vida dos moradores da Rocinha, a trama é dividida em três partes: a expectativa com relação à invasão; a ruidosa instalação da UPP; e a silenciosa partida da polícia e a retomada dos bailes funk que fazem o chão da favela tremer. Em capítulos curtos, que trazem perspectivas cruzadas, o narrador nos conduz pelas vidas dos cinco jovens protagonistas ― suas paixões, amizades, dramas pessoais, ambições, frustrações, sonhos e pesadelos.
Quem tem medo do feminismo negro? por Djamila Ribeiro
“Quem tem medo do feminismo negro?” reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista Carta Capital , entre 2014 e 2017. No texto de abertura, a filósofa e militante recupera memórias de seus anos de infância e adolescência para discutir o que chama de “silenciamento”, processo de apagamento da personalidade por que passou e que é um dos muitos resultados perniciosos da discriminação (…) Muitos textos reagem a situações do cotidiano — o aumento da intolerância às religiões de matriz africana; os ataques a celebridades como Maju ou Serena Williams – a partir das quais Djamila destrincha conceitos como empoderamento feminino ou interseccionalidade. Ela também aborda temas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil, além de discutir a obra de autoras de referência para o feminismo, como Simone de Beauvoir.”