A obra-prima de Erico Verissimo, um dos maiores clássicos da história da literatura brasileira, está na Netflix

Converter literatura, uma forma de arte onde palavras e ideias se unem harmonicamente, em obras audiovisuais é um processo que frequentemente resulta em perdas significativas. No cinema, que depende fortemente das imagens, a transição de uma narrativa escrita para a tela implica na perda de nuances semânticas, uma vez que as representações visuais dos cenários imaginados pelos leitores dificilmente correspondem a todas as expectativas individuais.

 O filme “O Tempo e o Vento”, adaptado do romance de Erico Verissimo por Letícia Wierzchowski e Tabajara Ruas, ilustra esse dilema. Apesar da adaptação técnica ser de alta qualidade e da direção de Jayme Monjardim, conhecido por seu estilo grandioso, o filme não consegue capturar plenamente a profundidade dramática e a fluidez da obra original, uma trilogia histórica com rica narrativa distribuída em três volumes.

“O Tempo e o Vento” oferece uma visão profunda da formação do Rio Grande do Sul através de suas três partes: “O Continente”, “O Retrato” e “O Arquipélago”. Cada volume apresenta uma faceta distinta da história regional, com “O Continente” e “O Arquipélago” referindo-se à geografia do Pampa, enquanto “O Retrato” fornece uma análise íntima dos personagens centrais e suas complexidades.

Essa abordagem detalhada e contextualizada pode não ressoar igualmente com todos os públicos, especialmente aqueles de fora da região sul do Brasil, e ainda mais em tempos contemporâneos, dado que a narrativa começa há mais de um século. “O Retrato” se destaca como o núcleo da trilogia, situando os personagens em meio aos conflitos que se estendem por sessenta anos, pontuados por batalhas intermitentes e momentos de trégua.

A adaptação de Wierzchowski e Ruas privilegia as cenas mais intensas e emocionantes do livro, culminando em um final onde o lirismo e a paixão pela terra são ampliados para uma audiência global, destacando o compromisso ambientalista do protagonista. Sete décadas após sua publicação inicial, “O Tempo e o Vento” mantém sua relevância, configurando-se como uma obra clássica aplicável a qualquer época ou lugar.

No filme, Monjardim constrói uma narrativa visual rica, ilustrando o conflito entre os republicanos presidencialistas e os federalistas favoráveis ao parlamentarismo, que resultou em uma guerra civil com um saldo de mais de dez mil mortos. O enredo é alimentado pelo romance entre o capitão Rodrigo Cambará, um forasteiro que morre em batalha e surge como espírito, e Bibiana Terra, pertencente a uma das famílias mais tradicionais do sul do Brasil. As atuações de Thiago Lacerda e Fernanda Montenegro dão vida às narrativas de luta e resistência, proporcionando uma representação corajosa e envolvente dos eventos históricos.


Filme: O Tempo e o Vento
Direção: Jayme Monjardim
Ano: 2013
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 8/10

FONTE: REVISTA BULA

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